sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Sessões Tardias #01: Sociedade dos Poetas Mortos (1989)


Apesar de amar a sétima arte, não sou das expectadoras mais ativas. Nunca estou completamente atualizada com as películas mais recentes, e há muitos filmes clássicos, daqueles que marcaram a história, que simplesmente ainda não assisti. Toda essa demora pode acabar causando um impacto diferente do esperado na hora de finalmente fazê-lo. Foi exatamente isso que me levou a criar essa nova série aqui no Recinto: Sessões Tardias, que sempre trará uma obra clássica do cinema e, talvez, pontos de vista divergentes dos da maioria.




Pra começar, trago este que foi o "filme da adolescência" de muita gente: Sociedade dos Poetas Mortos (1989). Ele povoava o meu imaginário como algo relativamente diferente, que mostraria os caminhos submundanos por onde andaram grandes nomes do passado. Embora nos traga algum toque dessa atmosfera, o cenário é outro. Nos deparamos com uma abordagem sobre escolhas e o início da vida adulta numa sociedade moralista e conservadora, que exige submissão a seus padrões e negação das paixões, especificamente no ano de 1959.


Temos um grupo de estudantes de uma escola tradicional para homens, a Welton Academy, com professores rígidos e exigentes, prestes a tentar uma vaga numa universidade. No meio desse cenário cinzento, surge o professor John Keating (Robin Willams), que é exatamente o oposto dos outros: espontâneo e bem humorado (sua matéria é equivalente ao nosso Português/Literatura). Seu objetivo é muito mais ajudar os alunos a pensar por si próprios e descobrirem as verdadeiras razões pelas quais desejam viver. As aulas são diferenciadas, externas. Há conversas e trocas de experiências ao invés de lições antiquadas e previsíveis.




No grupo há alunos com personalidades distintas. Todd Anderson (Ethan Hawke) é extremamente tímido e logo ao chegar em "Hellton" tem o peso do bom desempenho do irmão mais velho derrubado sobre suas costas. Charlie Dalton (Gale Hansen) é o riquinho atrevido e indisciplinado. Já Neil Perry (Robert Sean Leonard), o protagonista sonhador que vem de uma família mediana cujo pai sente a necessidade de prová-los tão valorosos quanto os mais abastados, e claro, pretende usar o filho pra isso.




Os rapazes acabam descobrindo que Keating, quando estudante dessa mesma escola, fazia parte do que chamavam de "Sociedade dos Poetas Mortos", que consistia num grupo que se encontrava numa caverna próxima para ler versos dos antigos poetas, e com a iniciativa de Neil, decidem então reavivá-la. Eles passam a sair à noite, quando todos os outros no colégio já estão dormindo, e se reúnem lá, onde fumam, bebem, contam histórias e leem poesias, inicialmente tudo meio que dentro daquela rebeldia adolescente boba e temporária que todos sabiam que findaria tão logo terminassem os estudos. O único que se envolve verdadeiramente pela magia da coisa é Neil, que começava a descobrir sua verdadeira vocação.




Mas tudo aquilo fazia parte de um processo maior. Estamos falando de garotos imaturos criados por famílias tradicionais no final dos anos 50, que mal sabiam o que era respirar sem a vigilância dos pais e de professores autoritários, sob os olhos de quem permaneciam durante a maior parte do tempo e tinham um propósito único de transformá-los em cópias de si mesmos. "Yes, sir!". Cada momento consistia num passo dado, em novas descobertas, em começar a agir e pensar de forma independente e de acordo com seus próprios anseios.




Cada um segue uma trajetória particular em busca do que Keating resumiu no sentido da expressão "carpe diem" (aproveite o dia), com destaque para Knox Overstreet (Josh Charles) e os já citados Neil e Todd.


Oh captain, my captain!

Todd, o garoto extremamente tímido, passa por um enorme desafio de autoconhecimento em que é ajudado por Keating, e é belíssimo ver como ele vai se entregando as suas emoções e se desenvolvendo no decorrer do filme. Entre todo esse conjunto de excelentes atuações, a dele foi sem dúvida uma das mais encantadoras. 


A trajetória de Neil

Neil faz exatamente o tipo central, de personalidade agradável, prestativo e sonhador. É aquele para o qual sempre imaginamos reviravoltas românticas e um final inspirador. E ele se aventura. Tem a ideia de reavivar a Sociedade, ensaia para uma peça de teatro  com uma autorização que ele mesmo forjou, e com isso descobre sua verdadeira vocação, mas acaba se dando conta de que em sua condição atual, decidir sobre o próprio futuro no lugar do pai autoritário, que traçou para o filho as oportunidades que não teve, não seria uma tarefa muito fácil.


Um final trágico

Os ensinamentos de Keating sem dúvida ajudaram e marcaram a vida dos rapazes, porém considerando sua imaturidade e a condição de dependência em relação aos pais, essa aventura pelos arriscados caminhos da liberdade acabou não sendo devidamente compreendida e bem dosada por todos.


"A maioria dos homens vive vidas de desespero dormente. Não se resignem a isso. Fujam!"

"Sugar toda a essência da vida não é sinônimo de se afogar nela".


A intolerância de uma sociedade manipuladora frente ao desejo de liberdade incompreendido e submetido a uma condição de dependência inalterável, acabam tendo uma tragédia como resultado. Numa época em que tamanha imposição era algo naturalmente praticável, tudo acaba acontecendo de acordo com tais preceitos. Os rapazes, pressionados por todos os lados, pela tragédia, pela escola, pela ideia da expulsão, pelos pais, voltam para suas vidas normais, mas guardam no íntimo todos aqueles aprendizados, simbolizados pela homenagem que fazem a Keating no final.




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